6.3: Cosmologia e a existência de Deus
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Ao final desta seção, você poderá:
- Descreva argumentos teleológicos e morais para a existência de Deus.
- Descreva a cosmologia hindu e os argumentos a favor e contra o divino.
- Explique o argumento ontológico de Anselmo para a existência de Deus.
- Articule a distinção entre os problemas lógicos e evidenciais do mal.
Outra questão importante na metafísica está relacionada à cosmologia. Cosmologia é o estudo de como a realidade é ordenada. Como podemos explicar a ordem, construída sobre muitos elementos diferentes, como causalidade, contingência, movimento e mudança, que experimentamos em nossa realidade? O foco principal dos argumentos cosmológicos será provar uma primeira causa logicamente necessária para explicar a ordem observada. Conforme discutido nas seções anteriores, por milênios, os povos igualaram a ideia de um pioneiro ou causa com o divino que existe em outro reino. Nesta seção, argumentos cosmológicos a favor da existência de Deus e de como os filósofos reconciliaram a existência de Deus com a presença do mal no mundo.
Argumentos teleológicos a favor de Deus
Os argumentos teleológicos examinam o design inerente à realidade e tentam inferir a existência de uma entidade responsável pelo design observado. Os argumentos teleológicos consideram o nível de design encontrado nos organismos vivos, a ordem exibida em uma escala cosmológica e até mesmo como a presença da ordem em geral é significativa.
Argumento do design de Aquino
Os Cinco Caminhos de Tomás de Aquino é conhecido como um argumento teleológico para a existência de Deus a partir da presença do design na experiência. Aqui está uma possível formulação do argumento de design de Aquino:
- Coisas que carecem de conhecimento tendem a agir em direção a um final/objetivo.
- Essas coisas agem em direção a um fim, seja por acaso ou por design.
- É óbvio que não é por acaso.
- Coisas que carecem de conhecimento agem em direção a um fim a partir do design.
- Se uma coisa está sendo direcionada para um fim, ela requer orientação de alguém dotado de inteligência (por exemplo, a flecha sendo dirigida pelo arqueiro).
- Portanto, existe algum ser inteligente que direciona todas as coisas naturais para seu fim. Esse ser é conhecido como Deus.
Argumentos de design em biologia
Embora Aquino tenha morrido há muito tempo, seus argumentos ainda vivem no discurso de hoje, uma empolgante discussão apaixonada. É o caso dos argumentos de design em biologia. William Paley (1743—1805) propôs um argumento teleológico, às vezes chamado de argumento do design, de que existem tantos detalhes, design e propósito intrincados no mundo que devemos supor um criador. A sofisticação e os detalhes incríveis que observamos na natureza não poderiam ter ocorrido por acaso.
Paley emprega uma analogia entre o design encontrado em um relógio e o design encontrado no universo para avançar em sua posição. Suponha que você estivesse andando por uma praia e por acaso encontrasse um relógio. Talvez você estivesse se sentindo curioso e abriu o relógio (era um relógio de bolso antiquado). Você veria todas as engrenagens, bobinas e molas. Talvez você acabe com o relógio e observe o design do relógio em funcionamento. Considerando a forma como todas as peças mecânicas trabalharam juntas em direção ao final/objetivo de contar as horas, você relutaria em dizer que o relógio não foi criado por um designer.
Agora, considere outro objeto — digamos, a complexidade do funcionamento interno do olho humano. Se pudermos supor um relojoeiro para o relógio (devido ao design do relógio), devemos ser capazes de supor um designer para o olho. Por falar nisso, devemos supor um designer para todas as coisas que observamos na natureza que exibem ordem. Considerando a complexidade e a grandeza do design encontradas no mundo ao nosso redor, o designer deve ser um designer divino. Ou seja, deve haver um Deus.
Muitas vezes, o argumento do design é formulado como uma indução:
- Em todas as coisas em que experimentamos esse design de exposição, experimentamos um designer desse artefato.
- O universo exibe ordem e design.
- Dado #1, o universo deve ter um designer.
- O designer do universo é Deus.
Leia “O argumento de ajuste fino para a existência de Deus”, de Thomas Metcalf.
Avalie os argumentos e contra-argumentos apresentados neste breve artigo. Quais são as mais convincentes e por quê?
Argumentos morais para Deus
Outro tipo de argumento para a existência de Deus é baseado na metaética e na ética normativa. Considere valores subjetivos e objetivos. Valores subjetivos são aquelas crenças que orientam e impulsionam comportamentos considerados permitidos, conforme determinado pela cultura de um indivíduo ou de um indivíduo. Valores objetivos governam os resultados moralmente permitidos e desejados que se aplicam a todos os agentes morais. Os argumentos morais para a existência de Deus dependem da existência de valores objetivos.
Se existem valores objetivos, então a pergunta “De onde vêm esses valores?” deve ser levantado. Uma possível resposta usada para explicar a presença de valores objetivos é que a base dos valores é encontrada em Deus. Aqui está uma forma de premissa/conclusão do argumento:
- Se existirem valores objetivos, deve haver uma fonte para sua validade objetiva.
- A fonte de todo valor (incluindo a validade mantida pelos valores objetivos) é Deus.
- Valores objetivos existem.
- Portanto, Deus existe.
Esse argumento, no entanto, levanta questões. A permissibilidade moral (ou seja, o certo e o errado) depende de Deus? A ética é uma expressão do divino ou a ética é melhor compreendida separadamente da autoridade divina?
Assista “God & Morality: Part 2” de Steven Darwall.
O argumento de Darwall a favor da autonomia da ética pode ser reafirmado da seguinte forma:
- Deus conhece melhor a moralidade (1:44).
- Deus sabe o que é melhor para nós (2:12).
- Deus tem autoridade sobre nós (2:48).
Como Darwall refuta a conclusão? Quais são as evidências oferecidas e em que ponto da discussão a evidência é introduzida? O que sua abordagem sugere sobre estratégias de refutação? Você pode refutar o argumento de Darwall?
Enquanto você escreve, comece definindo a conclusão. Lembre-se de que, em filosofia, as conclusões não são pontos de descanso, mas meros pontos de partida. Em seguida, apresente as evidências, declaradas e não declaradas, e explique como elas apóiam a conclusão.
O argumento ontológico a favor de Deus
Um argumento ontológico a favor de Deus foi proposto pelo filósofo, monge e arcebispo italiano de Cantuária Anselmo (1033—1109). Anselmo viveu em uma época em que a crença em uma divindade era frequentemente assumida. Ele, como pessoa e como prior de uma abadia, havia experimentado e testemunhado dúvidas. Para amenizar essa dúvida, Anselmo se esforçou para provar a existência de Deus de uma forma tão irrefutável que até mesmo o mais ferrenho dos descrentes seria forçado, pela razão, a admitir a existência de um Deus.
A prova de Anselmo é a priori e não recorre a dados empíricos ou sensoriais como base. Muito parecido com uma prova em geometria, Anselm está trabalhando de um conjunto de “dados” a um conjunto de conceitos demonstráveis. Anselmo começa definindo o termo mais central em seu argumento — Deus. Para o propósito desse argumento, sugere Anselmo, seja “Deus” = “um ser do que nada maior pode ser concebido”. Ele faz dois pontos principais:
- Quando falamos de Deus (quer estejamos afirmando que Deus é ou não), estamos contemplando uma entidade que pode ser definida como “um ser do que nada maior pode ser concebido”.
- Quando falamos de Deus (como crentes ou descrentes), temos uma compreensão intramental desse conceito — em outras palavras, a ideia está dentro do nosso entendimento.
Anselmo continua examinando a diferença entre o que existe na mente e o que existe tanto na mente quanto fora da mente. A pergunta é: é melhor existir somente na mente ou na mente e na realidade (ou fora da mente)? Anselmo pede que você considere o pintor — por exemplo, defina o que é maior: a realidade de uma pintura como ela existe na mente de um artista ou a mesma pintura existente na mente desse mesmo artista e como uma obra de arte física. Anselmo afirma que a pintura, existente tanto na mente do artista quanto como uma verdadeira obra de arte, é maior do que a mera concepção intramental da obra.
Nesse ponto, um terceiro ponto-chave é estabelecido:
- É maior existir na mente e na realidade do que existir somente na mente.
Você já descobriu para onde Anselmo está indo com esse argumento?
- Se Deus é um ser do que o qual nada maior pode ser concebido (estabelecido em #1 acima);
- E uma vez que é maior existir na mente e na realidade do que somente na mente (estabelecido em #3 acima);
- Então, Deus deve existir tanto na mente (estabelecida em #2 acima) quanto na realidade;
- Em resumo, Deus deve ser. Deus não é meramente um conceito interno, mas também uma realidade extra-mental.
Cosmologia hindu
Um dos principais argumentos para a existência de Deus, conforme encontrado nas tradições hindus, é baseado nas condições cosmológicas necessárias para explicar a realidade do carma. Conforme explicado no capítulo de introdução à filosofia e no início deste capítulo, o carma pode ser considerado como a lei causal que liga as causas aos efeitos. Assumindo a doutrina da interdependência, o carma afirma que, se agirmos de forma a causar danos aos outros, aumentamos a quantidade de negatividade na natureza. Portanto, nos machucamos ao prejudicar os outros. À medida que o eu se move através do renascimento (samsara), a dívida cármica incorrida é retida. Observe que as ações positivas também são mantidas. O objetivo é libertar a alma do ciclo de renascimento.
Manutenção da Lei do Carma
Embora se possa entender a causalidade cármica sem apelar à divindade, como a cadeia cármica causal é tão bem ordenada e capaz de obter resultados justos não é tão facilmente explicável sem um apelo à divindade. Uma possível apresentação do argumento para a existência de Deus a partir do carma poderia, portanto, ser a seguinte:
- Se o carma for, deve haver alguma força/entidade que explique a adequação (justiça) da dívida cármica ou recompensa cármica recebida.
- A fonte responsável pela adequação (justiça) da dívida ou recompensa recebida deve ser um agente consciente capaz de dar ordem a todas as interações cármicas (passadas, presentes e futuras).
- A adequação cármica (justiça) existe.
- Portanto, um agente consciente capaz de dar ordem a todas as interações cármicas (passadas, presentes e futuras) deve existir.
- Portanto, Deus existe.
Mundo físico como manifestação da consciência divina
A cosmologia construída sobre as doutrinas religiosas permite uma discussão dentro do pensamento hindu que une uma versão do argumento moral e do argumento do design. A menos que um designer divino fosse assumido, o tecido moral e cosmológico assumido dentro da perspectiva não poderia ser afirmado.
Argumentos hindus contra a existência de Deus
Um dos principais argumentos contra a existência de Deus é encontrado na tradição Mīmāmsā. Essa antiga escola sugere que os Vedas eram eternos, mas sem autores. A evidência cosmológica e teleológica, conforme examinada acima, foi considerada inconclusiva. O foco dessa tradição e de suas várias subtradições era viver adequadamente.
Problema do mal
O problema do mal representa um desafio filosófico aos argumentos tradicionais (em particular o argumento do design) porque implica que o design do cosmos e o designer do cosmos são falhos. Como podemos afirmar a existência de um Deus carinhoso e benevolente quando existe tanto mal no mundo? A resposta simples a essa pergunta é dizer que os agentes morais humanos, não Deus, são a causa do mal. Alguns filósofos reformulam o problema do mal como o problema do sofrimento para colocar a ênfase da questão na realidade do sofrimento versus o arbítrio moral.
O problema lógico do mal
David Hume levantou argumentos não apenas contra os argumentos tradicionais pela existência de Deus, mas contra a maioria das ideias fundamentais da filosofia. Hume, o grande cético, começa propondo que, se Deus conhece o sofrimento e o interrompe, mas não consegue pará-lo, Deus não é onipotente. Se Deus é capaz de parar o sofrimento e gostaria, mas não sabe disso, então Deus não é onisciente. Se Deus conhece o sofrimento e é capaz de pará-lo, mas não deseja amenizar a dor, Deus não é onibenevolente. No mínimo, argumenta Hume, a existência do mal não justifica a crença em um Criador atencioso.
O problema evidencial do mal
O problema evidencial considera a realidade do sofrimento e a probabilidade de que, se existisse um ser divino onibenevolente, o ser divino não permitiria esse sofrimento extremo. Uma das apresentações mais formidáveis do argumento foi formulada por William Rowe:
- Existem casos de sofrimento intenso que um ser onipotente e onisciente poderia ter evitado sem, assim, perder algum bem maior ou permitir algum mal igualmente ruim ou pior.
- Um ser onisciente e totalmente bom evitaria a ocorrência de qualquer sofrimento intenso que pudesse ocorrer, a menos que não pudesse fazê-lo sem, assim, perder algum bem maior ou permitir algum mal igualmente ruim ou pior.
- (Portanto) não existe um ser onipotente, onisciente e totalmente bom. (Rosa 1979, 36)
Respostas teístas ocidentais ao problema do mal
Muitos teístas (aqueles que afirmam a existência de deus) argumentaram contra as formulações lógicas e evidenciais do problema do mal. Uma das primeiras defesas cristãs foi de autoria de Santo Agostinho. Com base em uma metodologia e ontologia altamente neoplatônicas, Agostinho argumentou que, como Deus era onibenevolente (tudo de bom), Deus não introduziria o mal em nossa existência. O mal, observou Agostinho, não era real. Foi uma privação ou negação do bem. O mal, portanto, não argumentou contra a realidade ou o ser de Deus, mas era um reflexo da necessidade de Deus. Aqui vemos a aplicação de um conjunto de princípios de trabalho e a ênfase de a priori, resultando no que poderia ser rotulado (prima facie) como um resultado contra-intuitivo.
Uma perspectiva africana sobre o problema do mal
Nas seções acima, o problema do mal estava centrado na concepção de um deus como todo-poderoso, onisciente e onisciente. O mal, sob essa perspectiva, reflete um deus fazendo o mal (poderíamos dizer que reflete a agência moral de um deus) e, portanto, resulta no problema acima mencionado: como um deus “bom” pode fazer o mal ou talvez permitir que o mal aconteça? A rica diversidade do pensamento africano nos ajuda a examinar o mal e o arbítrio a partir de diferentes pontos de partida. E se, por exemplo, o levantamento do arbítrio (a prática do mal) fosse totalmente removido do sobrenatural? Em grande parte do pensamento ocidental, Deus era entendido como o criador. Dado o papel e as responsabilidades filosóficas decorrentes da designação de “a entidade que fez todas as coisas”, reconciliar o mal e a criação e Deus como bom se torna um problema. Mas se removermos o conceito de Deus do papel de criador, o arbítrio do mal (e a reconciliação do mal com o criador) não está mais presente.
Dentro da perspectiva ioruba-africana, o arbítrio do mal não é atribuído ao arbítrio humano, como era de se esperar no Ocidente, mas a “seres espirituais que não sejam Deus” (Dasaolu e Oyelakun 2015). Esses múltiplos seres espirituais, conhecidos como “Ajogun”, estão “espalhados pelo cosmos” e têm tipos específicos de irregularidades associados especificamente a cada ser (Dasaolu e Oyelakun 2015). Mover a estrutura (ou cosmologia) sobre a qual o bem e o mal são compreendidos resulta em uma mudança filosófica significativa. O significado do mal, em vez de estar repleto de conotações religiosas ou sobrenaturais, tem um sentido mais realista. O mal não é tanto pecado quanto destruição da vida. Não é uma ofensa contra um Criador eterno, mas uma ação conduzida por um agente moral humano que prejudica outro agente moral humano.
Ao contrário da tentativa de Agostinho de explicar o mal como a negação do bem (como não real), a metafísica iorubana afirma a necessidade do mal. Nossa capacidade de contrastar o bem e o mal é necessária logicamente para que possamos entender os dois conceitos.